No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

Ana Markl começa por revelar que, na adolescência, “comprava religiosamente o (então) jornal”. “Pouco tempo depois de o Kurt Cobain morrer, enviei uma mensagem para os ‘Pregões’ do BLITZ. Uma coisa muito profunda, tipo: Grunge forever. Kurt Cobain will never die. Tinha 14 anos, ok?”, brinca. “Em casa, cortava fotos do BLITZ para fazer o meu próprio semanário musical. Chamava-se ‘X’, o que também não revela grande originalidade. Mas todo este folclore ganhou particular significado a partir do momento em que a vida me permitiu, efetivamente, trabalhar no BLITZ quase 10 anos depois. E ainda hoje considero essa experiência um dos melhores empregos de sempre”.

A BLITZ marcou a sua vida enquanto melómana “por tudo o que me deu a conhecer, mas também por tudo o que me permitiu saber sobre as bandas de que eu gostava, num tempo sem internet”. “E havia ainda outra coisa muito marcante: a verve com que se escrevia, que umas vezes me despertava a vontade de ouvir coisas, outras me fazia rir, e outras me irritava profundamente - quando as críticas deitavam abaixo discos de que eu gostava”, conta. “Versar sobre uma coisa tão visceral e ter esse impacto no leitor foi sempre, e continua a ser, na era dos haters, muito fascinante”.

Para Ana Markl, a BLITZ “é um arquivo inigualável não só da história da música portuguesa, como da história da relação entre os portugueses e a música de todo o mundo, ao longo dos últimos 40 anos”. “Tem um papel fundamental na divulgação, mas também na reflexão sobre fenómenos da cultura pop, na construção de pensamento crítico e também numa certa dessacralização do jornalismo cultural. E, para isso, contribuem todas as pessoas que são parte da sua história: enviesadas, deslumbradas, irritadas, mas sempre muito apaixonadas”, explica.

O seu desejo para o futuro é “que se mantenha o espírito de missão”. “E, por isso mesmo, desejo também que se mantenha essa humanidade, esse quentinho falível e esse amor pela música e pela escrita. Por mais voltas que o algoritmo dê, desejaremos sempre voltar a esse ombro amigo. Ou a esse ouvido amigo”.