O criador de conteúdos digitais Fábio Castro, que só no Instagram, onde dá pelo nome de Timeless Dad, tem 100 mil seguidores, acaba de lançar um livro sobre liderança e parentalidade.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, autor revelou que 'Liderar é um Ato de Amor' "mais do que um guia é um espelho [...] que ajuda a refletir sobre o nosso estado atual, o que queremos e o que podemos fazer para nos tornarmos o melhor exemplo possível para os nossos filhos".

Ao tornar-se pai, Fábio diz que descobriu inúmeros caminhos de melhoria contínua, para ser e servir de exemplo para aqueles que mais ama e é isso que pretende partilhar esses ensinamentos tanto nas redes sociais, como no seu podcast 'K7 do pai' e agora também em 'Liderar é um Ato de Amor' .

O propósito é claro: "ser o melhor pai possível, com todas as virtudes e defeitos".

Os filhos são espelhos. Eles mostram-nos, sem filtros, as nossas virtudes e as nossas fragilidades

'Liderar é um Ato de Amor'. De que forma?

O título do livro reflete uma ideia simples, mas poderosa: liderar, seja em casa como pai/mãe ou no trabalho como líder, não é apenas um conjunto de técnicas ou estratégias. É, acima de tudo, um ato de entrega, presença e compromisso. Liderar com amor significa criar um ambiente onde as pessoas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas. É olhar para as necessidades acima dos desejos. No fundo, significa dar antes de exigir, inspirar antes de comandar e guiar pelo exemplo.

Como é que a parentalidade pode transformar a nossa vida?

A parentalidade muda-nos em todas as dimensões. Faz-nos reavaliar prioridades, desafia-nos a crescer e obriga-nos a olhar para dentro. De repente, deixamos de ser apenas nós e passamos a ser referência para outro ser humano. Essa responsabilidade é transformadora. Aprendemos sobre paciência, empatia e resiliência, e percebemos que, para educar bem, temos de nos educar primeiro.

Defende que a parentalidade, embora desafiante, é o melhor curso de autoconhecimento. Porquê?

Porque os filhos são espelhos. Eles mostram-nos, sem filtros, as nossas virtudes e as nossas fragilidades. A parentalidade obriga-nos a questionar padrões, a lidar com frustrações e a desenvolver inteligência emocional. Quando um filho desafia a nossa paciência, não está apenas a testar limites—está a mostrar-nos onde ainda precisamos de crescer.

Acha que ser pai é uma espécie de catarse?

É uma boa forma de olhar para a paternidade. Ser pai é um processo contínuo de aprendizagem, cura e reconstrução. Muitas vezes, damos por nós a revisitar a nossa própria infância, a questionar crenças antigas e a querer fazer diferente. Como, por exemplo, no meu caso. Fui abandonado pelo meu pai, não tive o melhor exemplo, mas sempre quis fazer diferente. E, nesse caminho, há um enorme potencial de cura emocional. Se soubermos olhar para a parentalidade como uma oportunidade, não só crescemos enquanto pais, mas também enquanto pessoas.

O livro 'Liderar é um Ato de Amor' é quase um guia para aqueles que ambicionam ser melhores pais e melhores líderes. Qual foi a maior lição que a parentalidade lhe deu?

Mais do que um guia, acredito que seja um espelho. Que nos ajuda a refletir o nosso estado atual, o que queremos e o que podemos fazer para nos tornarmos o melhor exemplo possível para os nossos filhos. A maior lição foi perceber que ser pai é diferente de ter filhos e que todos nós devíamos adotar os nossos filhos, mesmo os nossos filhos biológicos. Há muitos filhos que são órfãos de pais vivos e o papel do pai na estrutura e segurança que dá aos filhos é demasiado importante para não ser falado mais vezes. Não é uma opinião, é ciência, é falo precisamente desses factos no meu livro. A presença vale mais do que a perfeição. Muitas vezes, preocupamo-nos em fazer tudo bem, quando o mais importante é simplesmente estar, simplesmente viver. A perfeição não existe e os nossos filhos não precisam de pais perfeitos, precisam de pais reais, presentes, disponíveis e emocionalmente conectados. E isso aplica-se também à liderança nas empresas.

Estar presente e passar tempo com os filhos é dos temas que mais fala nas redes sociais, mas com a rotina do dia a dia, nem sempre é fácil fazer isso. Que conselhos tem para os pais cansados e que andam sempre a correr?

Não é fácil. É uma luta diária numa sociedade que está construída do avesso, onde a família fica muitas vezes em segundo plano. Nem sempre foi assim, mas hoje em dia acredito que toda a presença é importante. Melhor, se a mesma for de qualidade. Ou seja, um pai que passa 10 minutos genuinamente conectado com o filho, sem distrações, oferece mais do que um que está horas ao lado dele sem estar realmente presente e a fazer scroll no telemóvel. Não me considero mais do que ninguém para dar conselhos neste tópico, mas sei que pequenos rituais diários fazem toda a diferença: uma conversa antes de dormir, um passeio de 10 minutos, contar histórias, colocar o tempo em família na agenda, brincar…bincar é demasiado importante. É a forma dos nossos filhos dizerem que querem o nosso tempo e atenção. Algumas das regras da nossa família é que talvez possam ser úteis, é não ter ecrãs às refeições, fazermos tarefas em conjunto e incluí-los em atividades do nosso dia a dia. Acredito que o 'segredo' está nos momentos simples das nossas rotinas e conseguir transformar o tempo que já temos em tempo de valor. Não é fácil, porque muitas vezes eles vão fazer as coisas devagar e vão abrandar o nosso ritmo, mas não será esse o propósito?

De que forma é que o projeto Timeless Dad, onde só no Instagram conta com 100 mil seguidores, influenciou-o a escrever este livro?

O projeto Timeless Dad mudou a minha vida. Nasceu da minha vontade de partilhar a minha perspectiva como pai e como líder. Na altura, não tinha qualquer referência em Portugal que partilhasse sobre paternidade e decidi criar este projeto para falar da minha vida de Pai. Com o tempo, percebi que muitas das dores, dúvidas e desafios que eu tinha eram os mesmos de milhares de pessoas. O projeto e a mensagem passaram a ser maiores do que eu. Essa partilha diária, a escrever e partilhar conteúdo durante mais de 4 anos seguidos sem parar, ajudou-me a estruturar este livro. O feedback que recebo todos os dias, as conversas com outros pais e líderes, o conhecimento que fui adquirindo ao longo do tempo e as experiências que vivi nestes últimos anos foram, sem dúvida, uma boa base para o legado que deixei escrito aos meus filhos. Mais do que um livro, este projeto é um lembrete para nunca desistir e uma conversa contínua sobre o que realmente importa.