A energia escura, a força misteriosa que se acredita estar a impulsionar a expansão do Universo, parece estar a mudar ao longo do tempo, de acordo com novas observações com dados do instrumento DESI, divulgadas na quarta-feira.

Os cientistas há muito tentam compreender a natureza da energia escura e novas análises sugerem que esta força, que representa quase 70% do Universo, pode não ser constante, como se pensava de acordo com a teoria da relatividade de Albert Einstein.

A hipótese de que a energia escura está a enfraquecer foi proposta no ano passado e os novos resultados, apresentados numa reunião da American Physical Society na quarta-feira, parecem reforçá-la. No entanto, os investigadores ainda não têm certezas e procuram perceber o impacto desta possibilidade.

“O que estamos a ver é profundamente intrigante. É entusiasmante pensar que podemos estar à beira de uma grande descoberta sobre a energia escura e a natureza fundamental do nosso Universo", disse Alexie Leauthaud-Harnett , porta-voz do DESI e professor na UC Santa Cruz.

Um mapa do Universo em evolução

Os dados atualizados provêm de uma colaboração internacional que está a criar um mapa tridimensional da distribuição das galáxias ao longo de 11 mil milhões de anos da história do Universo. O objetivo é compreender como estas se espalharam e agruparam ao longo do tempo, revelando pistas sobre as forças que as movem.

Os estudos baseiam-se nos dados do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) - Instrumento Espetroscópico de Energia Escura-, que revelou os primeiros dados em 2022, no ano passado analisou 6 milhões de galáxias e quasares e acrescentou agora mais dados, elevando a contagem para quase 15 milhões.

O DESI fez o maior mapa 3D do nosso Universo até à data e utiliza-o para estudar a energia escura. A Terra está no centro desta animação e cada ponto é uma galáxia.

Outras medições, como a observação de estrelas em explosão, vestígios da luz do Universo primitivo e distorções na forma das galáxias, também apoiam a ideia de que a energia escura poderá estar a diminuir.

Ainda assim, os cientistas alertam que os dados não atingiram o nível de prova estatística exigido para validar completamente esta teoria. Até 2026, a colaboração planeia mapear cerca de 50 milhões de galáxias e quasares, esperando obter conclusões mais sólidas.

O futuro do Universo: expansão eterna ou colapso?

Se a energia escura for constante, o Universo continuará a expandir-se indefinidamente, tornando-se cada vez mais frio e vazio.

No entanto, se estiver realmente a enfraquecer, é possível que a expansão pare e que o Universo acabe por colapsar sobre si próprio num fenómeno chamado Big Crunch.

"Pode não parecer o destino mais risonho, mas oferece um certo fecho. Agora, existe a possibilidade de que tudo chegue ao fim. Consideraríamos isso uma coisa boa ou má? Não sei", disse Mustapha Ishak-Boushaki, cosmólogo e coautor do estudo, da Universidade do Texas em Dallas.

Nos próximos anos, outras iniciativas, como a missão Euclid (ou Euclides) da Agência Espacial Europeiae o Observatório Vera C. Rubinno Chile, também deverão contribuir com novos dados sobre a energia escura, ajudando a perceber melhor o nosso destino cósmico.