O apelo às doações é feito no tradicional "panorama humanitário global", que as Nações Unidas publicam em dezembro de cada ano, com uma avaliação anual das necessidades humanitárias a nível mundial e os recursos reclamados para apoiar os mais carenciados, e que será apresentado hoje em Genebra pelo Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

De acordo com as estimativas da ONU, 305 milhões de pessoas em todo o mundo necessitarão de assistência humanitária no próximo ano, e o apelo para fundos num montante global de 47 mil milhões de dólares (cerca de 44,6 mil milhões de euros) é feito já com base em "planos de resposta cuidadosamente priorizados", e que visam prestar ajuda crucial a 190 milhões de pessoas em 32 países e nove regiões de acolhimento de refugiados.

No "panorama humanitário global" hoje publicado, a ONU, comentando as várias crises em curso, argumenta que "o mundo está em chamas", pois "os conflitos armados estão a intensificar-se em termos de frequência e brutalidade", obrigando quase 123 milhões de pessoas a fugir das suas casas, ao mesmo tempo que "as catástrofes provocadas pelo clima estão a devastar comunidades, a devastar sistemas alimentares e a provocar deslocações em massa".

"Entretanto, as crises mais antigas continuam por resolver, com o apelo humanitário médio a prolongar-se atualmente por uma década", assinala o OCHA, dirigido desde 18 de novembro passado pelo britânico Tom Fletcher, o novo subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência.

Segundo o "panorama" mundial elaborado pela ONU, a região da África Austral e Oriental acolhe o maior número de pessoas necessitadas (85 milhões), sendo que "a crise catastrófica no Sudão" representa 35 por cento do total na região, seguindo-se o Médio Oriente e o Norte de África, onde 59 milhões de pessoas necessitam de assistência e proteção, e a África Central e Ocidental (57 milhões de pessoas necessitadas).

Para Moçambique, mais uma vez o único país africano de língua oficial portuguesa (PALOP) contemplado no plano anual de ajuda humanitária da ONU, o OCHA estima a necessidade de um financiamento na ordem dos 485 milhões de dólares (461 milhões de euros), para prestar ajuda a cerca de dois milhões de moçambicanos. Em 2024, aponta o gabinete, ao dar conta de exemplos de ajuda prestada por todo o globo no ano que agora finda, 445 mil mulheres e crianças em Moçambique beneficiaram de ajuda nutricional.

Indicando que, na América Latina e nas Caraíbas, 34 milhões de pessoas estão carenciadas, incluindo 15 milhões afetadas pela crise na Venezuela, o relatório dá conta ainda de 15 milhões de pessoas que continuam a passar necessidades na Europa, devido à guerra em curso na Ucrânia.

Tal como sucedeu no ano anterior, verifica-se um grande défice de financiamento para a prestação de ajuda humanitária, com o OCHA a sublinhar hoje que, "apesar da generosidade de longa data dos doadores, os défices de financiamento persistem", apontando que, "em novembro de 2024, apenas 43% dos apelos [a doações] de 50 mil milhões de dólares [47,5 milhões de euros] para esse ano tinha sido satisfeito", tendo este subfinanciamento "consequências bastante graves".

A ONU aponta, no entanto, que "o obstáculo mais importante para a assistência e a proteção das pessoas em conflitos armados é a violação generalizada do direito internacional humanitário", sublinhando que "2024 é já o ano mais mortífero para trabalhadores humanitários", sendo que "a grande maioria das vítimas são trabalhadores humanitários nacionais".

"O sofrimento por detrás dos números é ainda mais inconsciente por ser causado pelo homem. As guerras em Gaza, no Sudão e na Ucrânia são marcadas pela ferocidade e intensidade da matança, pelo completo desrespeito pelo direito internacional e pela obstrução deliberada do esforço do nosso movimento humanitário para salvar vidas", declarou que Tom Fletcher, .

"No entanto, apesar destes desafios, as agências humanitárias chegaram a quase 116 milhões de pessoas em 2024, prestando serviços vitais de alimentação, abrigo, cuidados de saúde, educação e proteção", assinala o OCHA.

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